Viajar sem fronteiras…
Ahh… nop, na verdade há uma na Irlanda
Começarei com a Irlanda como a minha primeira publicação sobre viagens no meu blog. Porquê?… Bem, foi aqui que começou a ideia para o meu website, foi aqui que decidi “aterrar” para trabalhar e estudar no final do ano de 2016 e é aqui que ainda estou… Durante quanto mais tempo? Quem sabe? Mas deixe-me dizer-lhe um pouco o que aprendi aqui, de acordo com a minha experiência como profissional, turista equipado com uma câmara e simples observador…
Na terra das colinas verdejantes (eu realmente pensei que seriam mais altas, não sei porquê…), de inúmeras ovelhas, de música alegre para esquecer o legado da fome e outros infortúnios que outrora sofreram, do céu em constante mudança de tons do azul ao cinzento, das costas ventosas e das famosas bebidas fermentadas e espirituosas uma coisa é certa: encontraras sempre alguém agradável, que te cumprimenta com um “how ya?”, sorri e faz um trejeito engraçado com a cabeça (consigo quase comparar ao “head bobble” dos indianos, mas só para um lado…), contagiando inevitavelmente a alegria típica do irlandês, não importa em que ponto do país! (sim, também existem os “grus-mal dispostos”, mas encontrei poucos)
A Cidade de Dublin, onde estou sediada e a trabalhar, é uma cidade vibrante (especialmente de quinta-feira a sábado à noite…), onde há uma multiplicidade de culturas emergindo mas não sufocando a própria característica da cidade – sente-se as pessoas, o património, as tradições estão a prosperar e os cidadãos orgulham-se dela! É uma cidade que oferece oportunidades atualmente a quem quer que as suas competências e dedicação sejam apreciadas (pelo menos para algumas áreas…). Sinto empatia por aqueles que sentiram necessidade de viajar por questões laborais, pois nos países de origem as oportunidades eram escassas e as que sobravam eram mal pagas ou estrategicamente preparadas para se encaixarem em certos receptáculos…
Continuando sobre viajem…sem dúvida Dublin oferece uma variedade de lugares para visitar:
- Parques: ótimos para um passeio, uma corrida, encontro com amigos para apanhar alguns raios de sol (St. Annes Park, Malahide Castle Gardens, Phoenix Park, etc)
- Pequenas vilas perto da costa, como Howth – meu pequeno refúgio para ir nadar, quando não está muito frio, para uma caminhada ou uma corrida ao longo do trilho da falésia e tirar fotos no porto e às focas visitantes (à procura do peixe deixado para trás pelas redes de pesca), comprar peixe fresco (só gostaria que os irlandeses em geral pudessem aproveitar melhor o seu peixe, geralmente falando como para um país com tanto mar e peixes disponíveis eles tendem a comê-lo frito ou misturado com natas e molhos…); Greystones e Bray são também muito piturescas e é de aproveitar a caminhada entre as duas vilas, correndo paralelamente à linha de comboio e mar.
- Museus – pessoalmente adoro a Biblioteca Chester Beatty – e Igrejas.
- Jóias escondidas que só se conhece a falar com os locais ou através de “city tour” guiadas
- Zoológico de Dublin, Jardim Botânico Nacional – os meus principais favoritos -e muitos mais.
Tem um grande trunfo cultural – música! está em todo o lado; teatros a apresentar espetáculos frequentemente e para todos os interesses, desde a dança a peças dramáticas; bibliotecas públicas em todos os cantos, artistas expondo as suas obras-primas em lojas, nas ruas, etc… A cidade está viva!
Mas, por vezes, é preciso acabar com todo o “ruído” e há muitos sítios para o fazer na Irlanda; seja por transportes públicos, carro ou à boleia.
Os transportes públicos dentro da cidade são satisfatórios, mas existem comboios de Dublin para a maioria dos locais de interesse em torno da Irlanda – Galway, Cork, Waterford, Belfast, Westport, Limerick, etc.
De carro (alugar não é nada caro) é a maneira mais conveniente, pois de comboio por vezes é necessário arranjar transferes se quiseres visitar os arredores das principais cidades. Problema? Só se conduzires do lado esquerdo (como eu!) … por isso o namorado conduzia sempre. ?
Irlanda é ideal para a aventura: explorar com a mochila às costas. Encontras uma excelente rede de hostels/B&B (negócios locais), com quartos comuns repletos de viajantes de todo o mundo ;numa das viagens de carro demos boleia a dois amigos da Alemanha (como me lembro, pelo menos um era) – eles descobriram que este era um país seguro e com muitos parques de campismo para ficar durante a noite, daí andarem há tantos dias à boleia na Irlanda.
Resumidamente, de todas as milhas que explorei na Irlanda, tenho de enfatizar alguns lugares e experiências (não é fácil reduzi-lo, digo-vos…):
Galway: a cidade é muito acolhedora, muito viva também. Acolhe com boa comida, bons artistas de rua (vejam os seus festivais), museu da cidade e uma surpreendente mostra de pesca do salmão através de métodos tradicionais.
Claro que se quiser explorar o lado do campo precisa de ir mais para norte e noroeste – atravesse o Lough Corrib até ao Parque Nacional de Connemara (imagem 7) e dê-se tempo para parar de vez em quando ao longo da viagem – é absolutamente bonito e pacífico!! Ah, e almoçar em Clifden (uma das melhores sopas de frutos do mar); Connemara N. Park e Kylemore Abbey partilham a mesma terra e estão muito mais perto (não tivemos tempo de visitar Kylemore, mas aconselho vivamente a ir, apenas sair um pouco mais cedo se planeia caminhar pelo trilho a partir do centro do visitante). No resto do tempo decidimos não ter nenhum plano e apenas percorrer a Wild Atlantic Way através de Galway – vistas deslumbrantes, um pouco ventosas que é certo, e tempo para um passeio de barco perto de Cleggan (gentilmente cedido por um grupo de mergulhadores que conhecemos no dia anterior).
Wicklow: Glendalough Lake e Wicklow Mountains (imagem 9), absolutamente espetacular! Não tenho palavras para descrever o prazer e vaguear enquanto caminhava e explorava através do trilho bem conservado… é esse tipo de quietude que procuro na meditação (pelo menos para mim, é) apesar do número de companheiros que se encontram ao longo do caminho. Esta foi a segunda montanha a caminhar na Irlanda – a primeira caminhada foi em Howth , mas é muito modesta em comparação – mas não se deixe enganar por mim, tem o cume a 171 mts de altura! Foi aqui que conheci o Paul, um homem simpático que adorava percorrer trilhos e convidou-me para as montanhas Wicklow e Sugar Loaf (cume de montanha com uma vista deslumbrante); claro, eu fui…e muitos perguntam: acabou de conhecer este tipo! Chama-lhe sexto sentido, chama-lhe intuição, diz-lhe o que quiseres, mas no fim do dia se os riscos devem ser tomados por forma a conheceres o teu entorno; Obviamente risco razoável… de maneiras que podes perceber as circunstâncias em que te estás a meter… esta tem sido uma lição e tanto para a vida profissional, para as competências pessoais e de viajante/turista; Esta não é uma regra, mas é método… E mais uma vez, na Irlanda encontras sempre alguém simpático!
Irlanda do Norte: Belfast é a capital e tem uma vibração bastante especial, digamos que é uma mistura vibrante de novo e velho – rico em cultura, história e desenvolvimento de novos ideais; a primeira vez que lá fui foi para um Festival Vegan, mas acabei por passar mais tempo pela cidade – andei por todo o lado, desde o Mercado St. George (inquestionavelmente vale a pena para o entretenimento, a comida, as experiências de aprendizagem oferecida pelos proprietários dos stands, etc…), até ao Museu Titanic através dos trilhos marcado pelas ruas da cidade – auxiliada pelo Google Maps e pela auto-orientação. Este ano tive a oportunidade de visitar o Zoológico de Belfast, já que o namorado estava aqui e estava a conduzir, e ver a incrível dedicação dos cuidadores, apesar do financiamento para mantê-lo aberto parece ser escasso e deixar os trabalhadores com uma preocupação inevitável pelo seu futuro e pelos animais que tanto acarinham; daqui fomos mais longe para visitar a Calçada do Gigante e devo dizer que fiquei realmente impressionado com a organização, desde o próprio museu, até à explicação humorística do áudio-guia, percurso pedestre (apesar do vento literalmente nos impedir de caminhar em certas zonas) e da paisagem (imagem 1). Seguimos o percurso em direção à Ponte Carrick-a-Net, mas não a atravessamos, pois foi fechada devido às condições meteorológicas. Paramos em Bushmills – sem whisky, mas uma boa sopa de frutos do mar, cerveja local e queijos. Agora ficamos aqui quentes e seguros perto da lareira.
Para alguns pode não parecer justo falar sobre Norte da Irlanda mas partilham a mesma ilha e para mim, como turista, o verde e as rochas são iguais tanto a norte como a sul, não faço distinção!
Westport : A minha experiência de 3 dias de fim de semana: viajante solitário na costa oeste. Não consigo enfatizar o quanto adorei este lugar… melhor, a experiência que tive em Westport (tão bom que coloquei duas fotos abaixo :D). Eu sabia que queria viajar o mais “verde” possível – apanhei um comboio e aluguei uma bicicleta para explorar a zona; fiz o trek de Croagh Patrick e fiz a Great Western Greenway (42K, parte da Rede Nacional de Ciclovias); as manhãs começavam cedo – ainda se via a névoa e gotas de água a cair das árvores; os pintasilgos a cantar e a procurar comida.
Bicicleta é um meio seguro de viajar mesmo nas faixas estreitas da cidade de Westport até à Montanha Croagh Patrick; à chegada, estacionei a bicicleta e subi a colina para ir ao encontro do cume e paisagens que se esperavam deslumbrantes; câmara na mochila, olho para cima – olha-me aquela colina coberta de branco (imagem 2), “claro que não é o cume deste trilho..pfff…” (pensava eu). Alguns quilómetros após o início da minha caminhada conheci um outro caminhante que me explicou a história por detrás da tradição da peregrinação – alguns subiam e sobem descalços a esta montanha sagrada que remonta ao tempo dos pagãos reunindo-se aqui para celebrar o início de uma época de colheita; ao mesmo tempo este companheiro com já alguma sapiência e experiência, pergunta: tens camada extra, porque está um pouco frio no topo…”espera!!!, estás a dizer-me que o topo é aquela parte branca??! Que se pode caminhar ate lá??!” Ok, estou 1/2 caminho, agora é tudo ou nada. A última etapa é difícil, mas deixe-me dizer-lhe NÃO PENSE DUAS VEZES antes de decidir subir ao topo… é impressionante! E depois tens aquela sensação de realização e paz… deixa-te estar por alguns momentos; a descida até parecia um passeio no parque, até aos saltinhos fui (talvez para aquecer…lol). De volta à bicicleta e à cidade – hora de descansar as pernocas agora.
Dia seguinte: Greenway – aconselho a combinar com antecedência com a empresa de aluguer de bicicletas o local de recolha – data e hora – caso contrário terá de fazer mais 42 mil de volta e poderá estar a chover (as condições meteorológicas mudam com rapidez aqui); Comecei em Westport, depois de um delicioso pequeno-almoço num acolhedor café local, e segui o caminho marcado a verde; encontros frequentes com ovelhas, cavalos, pequenas quintas com galinhas, patos e animais de estimação; a paisagem muda com frequência de tons e cada vila tem algo diferente para oferecer – pare e explore.
O último dia decidi dedicar à cidade de Westport o resto das horas antes de regressar a Dublin: de bicicleta, visitei o cais antigo e a Westport House (mais uma vez, a história perpetuada), desfrutei da comida local e da companhia e locais e conheci pequenas empresas que pareciam ter encontrado o lugar certo para prosperar – há espaço para todos aqui.
Wild Atlantic Way e Killarney: Outro na minha lista de trilhos de montanha – Carrauntoohill, cume a 1,038m. Mas deixe explicar como lá cheguei primeiro… de carro! como sempre conduzido pelo meu namorado! ? a brincar… Eu definitivamente preciso dizer-lhe onde estávamos antes e depois de Killarney, pois esta área da Irlanda é um MUST-VISIT: Wild Atlantic Way (WAW), a Cliff Coast, Southern Peninsulas e Haven Coast. De Norte a Sul, percorrem-se milhas ao longo de rotas panorâmicas onde não tem alternativa a não ser parar e explorar; Traught Beach perto de Rosshill (imagem 4), Ennistimon (agradável pequena cidade onde ficamos) Falésias de Moher (passeio a pé e de barco, aconselhados a ambos), Lahinch Beach (onde fomos nadar, em junho, com águas estavam mais quentes do que o habitual…), Ennis, Killarney, Ring of Kerry, Kenmare (uma cidade tão agradável), dormir numa casa de campo em Cloundereen, Cork (literalmente no meio do nada, com sons de pássaros e cheiros de m…sim, isso! Mas eu adorei!!), Cork City Market (porque adoro mercados tradicionais) e Fota Wildlife Park. Estes são apenas alguns que posso destacar desta viagem, mas claro que há muito mais para ver, apenas atreve-te!
Agora, sobre a subida ao Carrauntoohill. ATENÇÃO: se tiver algum problema cardíaco, não vá… ou vá pelo caminho mais longo que é menos vertical – a “escada dos demónios” ganhou este nome por algo, como pode presumir e corretamente… É difícil! Considero que estou em boas condições físicas e depois de completar esta fase e de reconhecer que ainda havia uma caminhada mais vertical para completar, pensei duas vezes… cheguei a pensar que estava a ser crucificada por algo de errado que fiz…lol. Mas, bom, quando chegas ao topo todos os desespero desaparece e tu apenas respiras e ficas hipnotozado pela paisagem pitoresca (imagem 5 e a 6 é uma metáfora para os meus pensamentos :D). E a descida? Não é mais fácil e como ponto conclusivo: fiquei dorida durante dois dias, não consegui subir escadas!! Tema comum para rir para o resto da viagem.
Greenway de Waterford a Dungarvan: a ciclovia é uma recuperação de uma antiga linha férrea; são 46k fáceis. O que fiz foi: apanhei um autocarro para Dungarvan, algumas horitas de turismo a pé nesta agradável cidade e aluguei uma bicicleta para o percurso; passei por tantos lugares icónicos diferentes que “fui forçada” a parar para tirar fotografias – viadutos, túneis, um comboio antigo transformado em café, lagos e um pequeno comboio a vapor que ainda faz um pouco do percurso (perto de Waterford); tudo é organizado e o ar limpo que respira ao longo do caminho não tem preço (não são permitidos veículos a motor). Waterford também tem muito a oferecer, o património cultural é mantido sob um ciclo constante de festivais (estive lá para o Festival de Spraoi, tão bom!!), exposições permanentes quer nas paredes da cidade (pinturas, obras de arte reais) quer em museus/galerias. E, para quem gosta, pertinho da costa para um mergulho ou surfar.
Deixe-me acrescentar nesta nota final que nunca encontrei um trevo de 4 folhas nem acho que o verde seja como esmeraldas; acho que a sorte acompanha o espírito bem preparado – espírito típico dos irlandeses de gema que se contagia – e a cor verde é bem predominante com certeza fazendo desta ilha tão agradável e fresca, enchendo de esperança qualquer um na sua jornada.
© Photos by Ana Santos